Emancipação humana

Espaço popular e feminista demarcado na educação

Alunas do pré-vestibular Desafio se “empoderam“ a partir de grupo auto-organizado

Jô Folha -

Existe dentro da educação em geral e principalmente dentro dos cursos pré-vestibular um foco na formação da pessoa como concorrente ao mercado de trabalho. É importante, trabalhar é necessário, pois. Mas é imprescindível também que dentro da sala de aula haja iniciativas que contribuam à emancipação humana. Dentro do Desafio, pré-vestibular gratuito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ações nesse sentido têm permitido a alunas e alunos não apenas a preparação para o Enem, mas também crescimento pessoal. Os projetos viraram agora tema de dissertação de mestrado dentro da própria universidade.

Desde 1993, quando foi criado, o Desafio se diferenciou dos demais cursos preparatórios pelo desenvolvimento crítico dos alunos em relação aos temas da realidade que os cerca - algo, veja só, hoje necessário para a elaboração da importante redação, por exemplo. Lecionando Sociologia na instituição, a educadora popular Daniele Rehling criou em 2015 um coletivo estudantil feminista com o objetivo de analisar como o debate acerca das opressões contribui para a diminuição das mesmas e o empoderamento da população. O resultado viraria a dissertação de mestrado Quem não pode com a formiga não pisa no formigueiro - a auto-organização das mulheres e a Educação Popular na construção da pedagogia feminista no curso Desafio Pré-Vestibular/RS, que ela defenderá neste semestre.

Casou a iniciativa de Daniele com uma discussão surgida no cotidiano de sala de aula. Enquanto abordava a libertação feminina através de letras da cantora MC Carol, se deparou com um aluno a vociferar sexismos típicos do primeiro olhar em relação ao funk. Começou aí uma rotina de encontros mistos - com meninos e meninas - e auto-organizados - apenas com meninas e oficinas, além da produção de cartas escritas pelas estudantes para elas mesmas na versão antes das atividades. Foram 13 oficinas em 2015, sempre com a desconfiança de alunos e professores que não viam nas atividades algo efetivo na hora de encarar o vestibular. Eis que o tema da redação daquele ano veio para comprovar a importância: violência contra a mulher era o assunto a ser abordado.

Resultados
Para a hoje estudante de Serviço Social Rafaela Crespin, o projeto foi e é importante para que as mulheres enxerguem-se umas nas outras. “A gente é sempre estimulado a competir. Fez a gente perceber a necessidade da empatia”, comenta.

Ela é uma das estudantes do coletivo que em 2016 se expandiu para toda a comunidade e passou a ter programação elaborada não apenas por Daniele, mas também pelo grupo de 13 alunas. As estudantes também não se limitaram ao Desafio: passaram a realizar rodas de conversa em escolas estaduais ocupadas durante o ano passado em Pelotas e até mesmo fora da cidade e participaram de audiências na Câmara de Vereadores para pedir meia passagem aos pré-vestibulares. Daniele conclui que, dessa forma, um dos principais resultados esperados foi alcançado.

“Se tornaram também educadoras e criaram um espaço auto-organizado. É demarcação da educação popular”, comenta. Para 2017, o objetivo do coletivo é construir um material didático feminista com histórias em quadrinhos. O nome já foi escolhido: Desafios de Dandara.

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